O Parque Natural de Divoká Šárka estende-se por uma vasta área, a este da grande artéria que liga o centro da cidade ao aeroporto. O seu nome significa algo como “indomável Šárka”, numa alusão mítica a uma heroína do Século VI ou VII. Segundo reza a lenda, por essa altura o poder encontrava-se nas mãos das mulheres, sob a orientação da princesa Libuse. Com o falecimento desta, os homens rebelaram-se, e o “partido” das mulheres estabeleceu-se na zona norte da actual Praga, num periódo marcado por uma aparente guerra civil. Aparentemente as mulheres levavam a melhor nas refregas, até que o jovem Ctirad, apontado pelo principe Premsyl para liderar as forças masculinas, começou a revelar capacidades militares que preocuparam Vlasta, a sucessora de Libuse. Então, a sua ajudante Šárka ofereceu-se para armar uma armadilha a Ctirad. Os pormenores divergem, mas terá sido no lugar onde hoje se localiza este parque que Ctirad sucumbiu às mãos de Šárka, o que de resto não foi de grande vantagem, uma vez que Premsyl acabou mesmo por levar a melhor. Por fim, Šárka ter-se-á suicidado, atirando-se do topo de um dos rochedos aqui existentes. As causas apontados para o suícidio variam: uns dizem que ela se apaixonou pela sua vitima e desistiu de viver sem ele; outros, que Šárka simplesmente não conseguiu enfrentar a desonra da derrota eminente.
Seja como for, a verdade é que temos aqui um belo espaço. A beleza natural que emana de um bosque destes é algo que não pode ser descrito por palavras, e mesmo as fotografias não farão nunca jus ao ambiente que ali se encontra. As árores, altas e frondosas, oferecem uma sombra quase permamente.
Aqui e acolá um pequeno banco pode ser encontrado, num convite irrecusável para uma breve pausa, quiçá para uns momentos de leitura, ou apenas para parar e escutar os sons da natureza: o restolhar dos ramos ao sabor do vento, o cantar da passarada, o esquilo que célere sobe pelo tronco do enorme carvalho.
Em Divoká Šárka as mais incríveis experiências podem suceder. Certo dia deparei-me com um pastor, um jovem de aparência letrada, que tocava flauta para o seu rebanho misto, de cabras e ovelhas. Sentei-me ali por perto, ele esboçou um ligeiro sorriso, e enquanto me deliciava com um banho de sol e escutava aquela encantada música, todos pareciamos fazer parte de um mundo mágico. O encantador flautista, os animais… e eu… todos partilhando em serenidade da companhia uns dos outros. A bicharada ruminava ali em meu redor, não se importando absolutamente nada com a visita inesperada. E o pastor, com a sua barbicha “à três mosqueteiros”, continuava tocando. Assim se passaram uns vinte minutos. E, digo-vos, o encantador tinha os seus méritos, porque foi dos momentos mais mágicos que vivi em Praga.