Hoje fui a Petriny. Não confundir com Petrin. Petriny fica nos confins da cidade, tão longe como os eléctricos alcançam. Mas fui lá, porque queria visitar um pequeno cemitério, tão pequeno como o meu jardim em Portugal. E o facto não mereceria uma entrada neste blog não fosse o cenário com que me deparei (infelizmente a câmara ficou em casa): a rampa de acesso ao portão de entrada encontrava-se coberta por um manto de neve, fresca, branca, suave. Eram bem trinta centímetros de neve, ao longo daquela subida. E tão alva, tão uniforme, que o sentido tridimensional quase que se perdia. Dava dó, arruinar aquela imensidão plana. Mas teve que ser.
À chegada ao portão a magia intensificou-se. Toda a área do terreno se encontrava nas mesmas condições que o acesso. Um cedro anão vergava-se sob o peso da neve, as suas pernadas a tocar o solo, tendo criado pequenos abrigos no interior dos quais o solo aparecia escuro, térreo, sem traço do branco omnipresente. Mas o mais impressionante era aquela campa, centenária, coroada por uma cruz de ferro imponente, com bem dois metros de altura. E ali ao lado tinha crescido uma árvore, tão determinada em ocupar o seu espaço que fez um pacto com o metal ali deixado pelo humano: abraçou-o até ao limite, com o seu tronco. Engoliu-o, vendo-se sair de um e de outro lado as hastes da cruz. Uma fusão inacreditável, total. Agora, tento ganhar coragem para voltar outro dia, equipado com a devida máquina fotográfica. Mas bom seria se caisse por ali outra camada de neve, para o prazer de revisitar ser meticulosamente redobrado.
Imaginei facilmente um cenário incrível, simples, mas incrível.
Agora, só para desfazer esta imagem, devias mesmo lá ir tirar umas fotos. 🙂