Já noutro artigo falei da penetração da arquitectura funcionalista em Praga, que resultou na criação de um bairro inspirado neste estilo, Baba. Venho agora mostrar-vos uma manifestação bem mais discreta mas igualmente espectacular do funcionalismo na capital checa.
Deveremos dirigir-nos ao bairro de Letna. Também já aqui tinha falado do cinema Bio Oko, e será uma boa ocasião para fazer reviver esse artigo, uma vez que o edifício que alberga o cinema faz parte do complexo que pretendo mostrar-vos.
Trata-se de um meio quarteirão que forma uma espécie de H, com uma das faces viradas para a rua Milada Horackova, outra para a Františka Křížka e uma terceira para a Heřmanova. E o que é que tudo isto tem de extraordinário? É que o viajante comum ao passar por estes sete prédios, se reparar neles, pensará que datam dos anos 80 ou 90, quando na realidade foram construídos na década de 30 do século passado, no período entre guerras.
São um milagre da visão funcionalista de uma geração de arquitectos, fruto do projecto de Jaroslav Stockar-Bernkopf e Josef Šolc. Os edíficios, essencialmente residenciais, foram construídos para uma associação social dos funcionários do Banco Nacional, tendo os trabalhos começado em 1937 e terminado já no período de ocupação alemã.
O segmento do cinema Bio Oko foi o último a ser criado, mantendo nas suas traseiras um amplo espaço para estacionamento, algo verdadeiramente inovador para a altura, assim como um pequeno bloco com oficinas que é actualmente ocupado por ateliers de jovens artistas.
Note-se que o projecto inicial contemplava apenas dois blocos de três andares, separados entre si. Contudo este conceito foi chumbado pelas autoridades da cidade e deu lugar ao design que hoje podemos ver implantado no local, com o cinema a operar a junção entre os blocos que entretanto tiveram dois andares adicionados.
Os apartamentos virados para a Milada Horackova são de uma tipologia superior e os que se encontram na Heřmanova são mais pequenos. O interior dos edifícios tinha equipamentos que na altura eram de elevado luxo: elevador, intercomunicadores e mesmo um sistema de depósito de lixo que exigia dos inquilinos apenas que colocassem os sacos com os resíduos num alçapão, de onde o lixo escorregava até ao depósito comum do edifício. Um expediente que posteriormente se vulgarizou mas que na altura era revolucionário. Infelizmente hoje encontra-se inutilizado.