Regressar, oito meses depois. Sem saber o que esperar, ultrapassando o portal que me leva de regresso ao passado. Estar ciente de que estão reunidos todos os factores para uma pequena tempestade emocional, como sucede quando voltamos atrás uma página do livro da vida que já lemos.
Surpreendentemente, contra todas as probabilidades, não foi nada disso que sucedeu. Bem pelo contrário. Fui antes mergulhado num remoinho de reencontros, de ocasiões sociais, de visitas a solo aos locais que antes eram o meu dia a dia. O frio das temperaturas negativas gelou-me a pele mas aqueceu-me as entranhas. Sentia falta disto, De estar em casa aconchegado pela temperatura amenas que só aquecimento conveniente e isolamentos adequados podem proporcional, sair para a rua e receber aquela carícia áspera do ar que corta mas não penetra. E a neve, esquecida em alguns pontos, depois de vários dias sem renovação.
Revi amigos e conhecidos, estabeleci novos contactos. Lutei como não sabia ser possível lutar contra uma agenda que se preencheu, deixando poucos espaços para convites endereçados. Para estar sozinho, comigo e com o meu amor, sobraram poucas ocasiões, mas aconteceu: um longo passeio ao lusco-fusco, que em Praga parece durar para sempre, com os toques dourados de um sol que se reflectia onde podia e, para potenciar o prazer, sem uma horda de turistas, que certamente se acobardaram perante os menos sete graus daquele final de tarde.
Com esta viagem aprendi algo, que me tinha passado despercebido desde que decidi deixar de viver em Praga: voltarei, e depois de voltar regressarei, e depois de regressar retornarei. Como visitante e como habitante. Não há como resistir ao charme desta velha senhora. É amor para a vida.