As luzes apagam-se, calmamente, como manda a tradição. E o silêncio cai sobre a sala. Uma calmaria selectiva, que deixa de fora todo o ruido que a audiência pudesse provocar. Porque o filme, esse vai-se desenrolando em todo o seu esplendor sonoro. É assim vir ao cinema. E para quem me leia a partir de Portugal, habituado que estará às risadinhas, ao estalar dos pacotes de pipocas, à miriade de sons inconvenientes provocados pelos telemóveis, poderá parecer uma viagem no tempo, ao antigamente, quando também nas salas do Porto e de Lisboa se podia assistir a um filme com toda a concentração que a obra merecia. Mas não é. Basta dar um salto a Praga, e essa realidade extinta regressará, como que saida de um livro de memórias há muito fechado, lombada poeirenta, que se sopra antes de se abrir para uma leitura que desperta aquele sorriso no canto dos lábios.
Em Lisboa, cidade com cerca de três milhões de habitantes, existia o Quarteto. Hoje, nada. Praga, metade dos habitantes. E só assim de memória, aponto o Aero, o Oko e o Svetozor. Cinemas dedicados ao cinema alternativo, sede de infindáveis ciclos temáticos, de festivais diversos. Websites modernos, actualizados, com reservas online. Preços atractivos, legendas em inglês. E acima de tudo, aquele ambiente. Silêncio, respeito. É de novo possível ir ao cinema, assistir ao esplendor da Sétima Arte na grande tela, para a qual nasceu.
E à laia de parêntisis, uma boa parte dos filmes em cartaz é de origem local. Produzidos num país mais pobre do que Portugal e com sensivelmente a mesma população. Mas que encontra artes e engenho para colocar todos os anos nos cinemas um incessante desfile de películas, cobrindo todos os géneros.